CAPÍTULO 6
CANTOR JOSÉ MENDES
Fonte: cdn.wp.clicrbs
JÓSE MENDES, o artista que cantava enquanto um fã morria, não percebia que com as suas belas canções, talvez, tenha amenizado a dor e a tristeza que levaram o meu irmão daqui e que por causa disso, a lembrança da última música que o Orgel ouviu, antes do disparo daquela arma que o suicidou, ainda soa em seus ouvidos, seguindo-o pela eternidade afora, no local onde se encontra. E, na época do trágico acontecimento, ao ficar sabendo da notícia em que um jovem morrera na noite de seu baile-show no CTG Osório Porto em Passo Fundo-RS, com certeza esse ator, cantor e compositor da música Regional Gaúcha, nem ao menos pode notar que a mesma morte já o observava e tramava um golpe, para também levá-lo cedo para o além, no auge de sua carreira, três anos depois, para conhecer de perto, quem foi a vítima fatal que registrou com sangue a festa fandangueira que deveria ter acabado sem traumas, naquela gelada madrugada de inverno, 08 de Agosto de 1971.
Nascido em Lagoa Vermelha-RS em 20 de Abril de 1939, José Mendes, viveu na cidade de Santa Terezinha-RS durante 14 anos, após a separação de seus pais. Trabalhando como peão de estância, Mendes começou a fazer suas primeiras serenatas, seguindo carreira artística depois de prestar serviço militar, em 1958. O início do sucesso daquele jovem humilde começa em 1960, quando formou um trio que cantava para gaúchos e catarinenses. Mais tarde, um amigo fazendeiro emprestou-lhe dinheiro para viajar a São Paulo e gravar o disco “Passeando de Pago em Pago,” história de suas andanças pelo Rio Grande do Sul. Depois de finalizar o álbum, José Mendes vem a Porto Alegre-RS e durante cinco anos o cantor faz shows pela Região Sul, oportunidade em que conhece artistas e grupos como Os Araganos, Os Mirins, e Portela Delavy. Em 1967, retorna a São Paulo e lança em um compacto simples de vinil, a música “Pára Pedro” pela gravadora Copacabana, tornando-se um sucesso nacional e internacional. Em 1968, apresentou-se, no Rio de Janeiro, no Programa do Chacrinha. Já em 1969, com roteiro de Antonio Augusto Fagundes, atua no filme “Pára Pedro,” lançando também o seu quarto álbum da carreira e agora atuando em um outro filme “Não Aperta Aparício,” ao lado de grandes nomes como Grande Otelo e José Lewgoy. Em 1970, fez shows em quase todas as cidades gaúchas, além de apresentar-se em Santa Catarina, Paraná, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro e nesse último estado, foi convidado para desfilar na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, saindo como destaque ao lado de Martinho da Vila. Nesse mesmo ano, fez sucesso em Portugal e em outros países europeus, devido a sua intensa popularidade, famoso “…vaqueiro sulino com melodias regionais, de chimarrão e bombacha…” assim as revistas da época o interpretavam. E em 1972, o seu terceiro filme “A Morte Não Marca Tempo.”
E não marcando tempo algum, a morte vem e o leva, dois anos depois, em 15 de Fevereiro de 1974, quando a camionete Veraneio, ano 1969, na qual viajava com mais três pessoas, retornando de um show em circo na cidade de Pelotas-RS, colidiu de frente com um ônibus na BR 471, matando-o e aos seus companheiros, encerrando 34 anos de vida deste cantor que dedicou amor à música tradicionalista, pois todas as suas canções são lindas de se ouvir e não há quem não goste deste autêntico cantador do Rio Grande que nos presenteou, enquanto aqui viveu, com belíssimas melodias alegres e tocantes. Na hora em que aconteceu o acidente, José Mendes estava indo fazer um show em Santa Vitória do Palmar-RS, mas lamentavelmente nunca chegou lá… “Naquela Tarde de Uma Triste Sexta-Feira, Traumatizou o Mundo Tradicionalista Quando Ocorreu Uma Notícia Verdadeira Que Na Estrada, Tombava Um Grande Artista…” “Alma Penosa,” (1974) um tributo a José Mendes de Teixeirinha e Mary Terezinha. Em 2004, seus restos mortais foram transladados de Porto Alegre-RS, para o museu “Memorial José Mendes,” na Capela Santa Terezinha localizada em Esmeralda-RS, hoje patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul.
Lembro-me muito bem dos grandes sucessos da música gaúcha nas emissoras Rádio Passo Fundo AM, Rádio Municipal AM e Rádio Planalto AM, que agradavam muito a meu pai que curtia todas as canções. Me criei ouvindo Os Bertussi, Teixeirinha e Mary Terezinha, Gildo de Freitas, José Mendes, Milton e Almerinda, Mário Zan, Luis Gonzaga e outros, num tempo em que meu pai cedo levantava, às 5:00 da manhã, para ir ao trabalho, enquanto preparava o seu café campeiro junto ao fogão à lenha, escutava, cantava e dançava sozinho. Até os vizinhos falavam que sabiam quando “o seu Arlindo” já se encontrava em pé, pois ouviam de suas casas o velho rádio que ele comprara em 1955 e que até os dias de hoje funciona. Nasci, conhecendo aquela caixa enorme, parecendo de abelhas, à válvula que, depois de ligado, levava alguns segundos para começar a funcionar, de grave e agudos fortes. E assim sendo, passei a gostar das músicas gaúchas que também era obrigado a ouvir, junto a minha família e aos vizinhos, portanto, ninguém mais dormia, voltando o silêncio após as 6:30 da manhã, que era o horário que meu pai seguia rumo a Viação Férrea do Rio Grande do Sul, hoje antiga Gare, onde trabalhava como artífes mecânico.
Acredito que essa tenha sido para nós, uma época muito feliz, pois nossa família estava completa, com todos unidos embaixo do mesmo teto. Porém, havia um cantor gaúcho, que a pouco iniciava sua trajetória artística e vinha até nossos ouvidos, José Mendes, trazendo belas palavras musicais, fazendo o ouvinte prestar atenção no seu dia a dia, com suas mensagens agradáveis e ótimas para dançar. Afinal, o objetivo de quem canta e quer ficar famoso, é realmente isso: tocar o coração, para, sensibilizando e transformando em fã cada pessoa, possa fazer com que qualquer um se identifique na canção que se ouve e que por causa disso, acostume-se a cantar e cantarolar, se tornando um vício, todo mundo sabendo. E, por certo, foram inúmeras vezes que o Orgel acordou de manhã bem cedo e lá da sua cama, ouvindo a barulheira que meu pai fazia na cozinha, muitas vezes ouviu no rádio ligado, a voz de quem cantava uma melodia gaúcha, que talvez ele nem prestasse muita atenção, sem sequer imaginar que um dia, muito breve, em um lugar que ele ainda desconhecia, seria o último som que ouviria e que deste local, só poderia sair carregado por outros. Por isso, a nossa vida é um devaneio, ou simplesmente “…um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece” (Tiago 4.14).
O FIM DO ORGEL
Quando criança, o Orgel escutava de sua cama, de manhã cedo, José Mendes cantando alguma coisa do tipo “…As Pedras Que São Pedras No Caminho Se Encontram, Talvez Um Dia Tornarei a Te Encontrar…” (“Surpresas da Vida”), mas agora ouve a mesma canção, deitado em um chão de terra gelado, longe daqueles que realmente o amavam, com a vida de seu corpo fugindo dele e o deixando lá onde resolveu morrer, próximo a uma cancha de bochas, enquanto o baile seguia no andar de cima, no CTG Osório Porto. Talvez naquele momento derradeiro, a canção que ouviu fosse outra: “…Quando Eu Morrer Eu Viverei Nas Tuas Cores, Mas Te Levando Em Minha Última Lembrança…” (“Última Lembrança”). E com certeza, desejoso e arrependido pelo que fez, enquanto ainda tinha os últimos respiros e ouvindo, quem sabe, “Tristeza Por Que Você Não Vai Embora e Faz Essa Saudade Te Acompanhar…” (“Vá Embora Tristeza”), ou ainda, “…Saudade Me Deixa Em Paz, Cansei De Tanto Penar…” (“Palavra Triste”), lembrou de toda a sua vida que até aquele momento tinha, num corpo perfeito e lindo que entregaria aos germes e possivelmente outra música ouvia “…É Uma Saudade Que Vai, Outra Saudade Que Vem…” (“Mensagem de Saudade”), e quem sabe, tenha tentado levantar-se e gritar numa voz de choro desconsolado, por socorro para nossa mãe que estava aflita em casa e para Jesus, enquanto vagamente como que bem distante, ouvia a música que o mesmo José Mendes cantava, “…Foi No Rincão a Gaúcha Mais Bonita Que Deixou Minha Alma Aflita, Pelo Fogo Do Amor…” (“Laços Da Saudade”), igual aquelas que ele ouvia de manhã, do seu quarto, enquanto nosso pai se preparava para ir ao trabalho. E desnorteado pelo poder da morte que já o dominava, de repente pensou que poderia estar ainda em sua cama, enquanto ouvia “Tirei Todas As Pedras Do Seu Caminho, Para Você Passar Lhe Dei Amor, Lhe Dei Carinho…” (“Pedras no Caminho”) sonhando tudo aquilo e que logo acordaria, mas não consegue mais recuperar o seu alento e sua mente ainda lhe traz lembranças de que logo é preciso levantar para ir a escola, mas não consegue mexer-se e já não houve mais as músicas em volume alto e barulhento, talvez o pai já saiu de casa. E o sono profundo que tomou conta de si, numa noite que nunca mais terá aurora, já não o deixa sentir mais nada e amortalhado, tudo começa ficar escuro e assustador e então numa última tentativa de continuar vivo, percebendo que triste está sendo aquele final momento, em meio aos movimentos de contorção dos que estão morrendo, toma conhecimento da loucura que praticou contra a sua própria existência, entendendo que agora é tarde demais para voltar, sente que está indo em direção ao desconhecido. Deixará sua família, seus amigos, seu colégio, seus professores, as suas coisas, seu quarto e sua cama quentinha e as belas manhãs de primavera com flores cheirosas e pássaros cantando de felicidade, o pai a quem ele havia prometido um presente justo no dia dos pais, os irmãos, eu o caçulinha, o seu trabalho e o seu divertimento e a sua formosa juventude. Não casará e nem terá filhos, pois acabara de cessar a sua vida.
E querendo acordar, sente o calor do sangue jorrando de sua fonte direita pelo ato suicida, junto as lágrimas que correm de seus olhos, lembrando da querida mãe que não merecia o que ele causou e desejoso de voltar para casa e abraçá-la como nunca antes fizeste, expressando-lhe todo o seu amor por ela que o gerou e criou, parte para longe, para o mesmo lado onde vão os que morrem, numa viagem triste e sem volta, murmurando entre soluços, quem sabe, os últimos pedidos de perdão e misericórdia a Deus. Devia ter aprendido mais sobre o valor de “amar o seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12.31) e com isso ter feito o bem a muita gente. Deveria ter prestado mais atenção no pôr do sol, no brilho da lua, tentado contar o máximo de estrelas possíveis, brincado muito mais na chuva em dias de verão, indo para o interiore banhado-se nú em rios, para entender melhor que somos natureza. Apoiar as causas beneficentes, ter feito visitas aos asilos, ter aprendido a amar e preservar muito mais o meio ambiente e, além disso, ter ficado mais tempo em casa com a família, assistindo programas na TV, comendo pipocas. Tomar algumas cuias de chimarrão com os pais e querer ouvir os seus causos antigos, ido visitar parentes, principalmente os que moram em outras cidades. Ter amado verdadeiramente ao Deus Criador e procurado entender muito mais sobre a pessoa de Jesus que havia comprado sua alma com o Sangue que derramou na cruz, não para vê-lo agora, morto no chão, mas sim para ter um discernimento entre o certo e o errado conhecendo o Dia do retorno do Salvador que em breve se dará em nossa atmosfera, com um grande estrondo, quando Jesus retornar vindo como um ladrão, fazendo os elementos desfeitos pelo calor e a Terra e tudo o que nela há, serão destruidos. "Quanto ao dia e a hora ninguém sabe, nem os anjos do Céu, nem o Filho, senão somente o Pai. Portanto, vigiem, por que vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor" (Mateus 24.36,42,44) que se ouvirá nos quatro cantos da Terra. Se assim tivesse feito, com certeza não estaria agora ali, naquela situação macabra, exposto as vontades do reino das trevas.
E nesse momento, os anjos da morte que haviam planejado tudo, retiram-se daquele lugar, voltando ao inferno, deixando o corpo de um jovem humano, inerte, sem vida, destruído e jogado ao sujo chão de um local público que fede a cerveja de seus bêbados e por horas, sozinho, até ser encontrado. E enquanto todos aqueles que estavam no baile, voltam para suas casas quentinhas, alguém não mais voltará para contar como foi a festa e não mais marcará sua presença nesse mundo, deixando apenas, como sua marca registrada, em nome do amor que não morre jamais, as lembranças para todos nós que o conhecemos e a saudade sem fim, à sua memória que nos prova de que um dia esteve conosco. E a última canção que escutou do seu ídolo José Mendes, quando o sono da morte o abraçou definitivamente, jamais saberemos, fica em segredo eterno, só compartilhado agora, com quem cantava aquela noite.
“Tu Fostes Como Outros Foram Para o Velho Pago do Além,
Onde Um Dia Também, Eu Quero Bolear a Perna.
E o Patrão Que Nos Governa Que Por Certo é Teu Amigo,
Há De Ser Bueno Comigo, Aí Na Querência Eterna.”
Uma parte da canção “PRECE” de José Mendes e Jaime Caetano Braun feita em homenagem a seu pai, cantada pelo filho José Mendes Júnior, mas que também canto pensando no Orgel, que era seu fã, e que escolhendo aquele baile onde seu ídolo cantava, foi-se para a Querência do Desconhecido, preferindo nos deixar para morar, fisicamente no Campo Santo.
A Canção de São João: Os pássaros “Quero-Quero,” que cantavam e voavam naquele dia do enterro do Orgel lá no Cemitério de São de Bela Vista, marcou-me a mim para sempre, como uma lembrança de um acontecimento que deveria ficar registrado desta forma. O muito mais estranho ainda, é que eu não lembro de ter visto e ouvido esses pássaros antes, em casa ou em qualquer outro lugar, só conhecendo-os com a morte de meu irmão. E isso ficou tão fortemente gravado em mim, que todas as vezes que ouço seus gritos rasgados pelo céu, o que me vem a mente é que o que eles fazem, chama-se a “Canção de São João,” em honra ao Cemitério São João de Bela Vista, uma maneira desses voadores trazer mensagens de entes queridos mortos, para os seus familiares. E esses pássaros predestinados a cumprir a sua sina de cantar sobre nossas cabeças palavras de quem já morreu, sobrevoam em todos os cemitérios existentes e depois retornam nos falando alguma coisa, palavras cantadas ou gritadas para os que vivem com a saudade dos seus entes que partiram, só que nós não compreendemos isso.
E, em particular, quando esses pássaros estão muito próximo e voando acima de mim, o que eles tentam me transmitir, são mistérios vindos do Orgel e de outros familiares meus que também estão lá, na Cidade Eterna do Sono como que códigos indecifráveis difíceis de entender e por isso eu apenas chamo seus gritos de a “Canção de São João.” Dessa forma, todos os dias lembro do trágico acontecimento em nossa família, porque todos os dias os ouço e vejo cantando, esteja eu em qualquer lugar. Estou em casa e ouço-os, lembro. Estou num restaurante e ouço-os, lembro. Estou numa Igreja ouvindo a Pregação da Palavra de Deus, ouço-os, lembro. Estou me divertindo com amigos, ouço-os, lembro. Não importa onde esteja, ouvi-os, lembrei do dia em que a morte do Orgel, desgraçou-me para sempre e da minha vida estranha que passou a ser, sem sentido para continuar.
Guardiã da Região do Silêncio: Uma Igreja solitária que durante o dia aparece resplandecente com a luz do sol, mas quando a noite surge, esconde-se misteriosamente nas trevas, ocultando o segredo dos mortos da Cidade Eterna do Sono. Construída, segundo a data registrada, em 1940, a Igrejinha de São João, saída para Marau, parece ter sido erguida naquele local, não para atrair católicos, haja visto que missas não se realizam mais ali, bem diferente do remoto passado, que, segundo meu pai residiu naquela localidade, onde viveu até sua maioridade, em São Brás, trabalhando na colônia com meu avô, era um local bem povoado, havendo muitas casas e armazéns por perto e escolas. Mas hoje parecendo esquecida e sem muita importância para a geração atual, a Igreja que outrora era repleta de fiéis em suas cerimônias religiosas, está só e nem mais o seu sino se ouve.
Mas então, onde está aquele povo que frequentava esse templo? Mortos? Como uma comunidade pode desaparecer, haja visto que, pelo muito tempo de existência desse povoado, poderia haver ali, uma cidade? E assim sendo, a mesma ocasião e oportunidade que construiu aquele lugar, trouxe também junto, o mesmo tempo que destruiu para não mais lembrar nem sequer os nomes dos antepassados que ali viviam. Somente no tempo do Kairós, essa época continua acontecendo e não mais para nós. E então, essa Igreja, fixada num lugar êrmo, distante de tudo, passou a ter um outro propósito: tornar-se Guardiã da Cidade Eterna do Sono, a Região do Silêncio, guardando os segredos dos muitos que ali dormem nesta cidade, que costumavam rezar aos domingos diante do altar e hoje, como recompensa seus corpos são protegidos pela Igreja que cuida do distante cemitério, de seus habitantes, como guardiã solitária
e além disso, fora construída num lugar de destaque, justamente para guardar a entrada para se chegar ao Campo Santo distante 1.500 metros do asfalto e vingar, sem clemência, com todo o malefício de pragas, doenças e desgraças, a qualquer vândalo que venha perturbar os que jazem à espera da Ressurreição. E eis aí o grande enigma à essa Igreja que não está ali por acaso, mas sim, ocultando missas secretas realizadas nas madrugadas, pelos espíritos dos corpos que, durante o dia dormem nos sepulcros e que a noite, voltam a habitar e povoar aquele local, como faziam no passado.
A GRANDE LIÇÃO
Quando fazemos uma visita
ao Campo Santo,
para termos um contato
mais perto
com algum ente-querido
que ali
jaz, inerte,
ficamos possuídos
de uma tristeza forte.
Mas, no entanto,
cada lágrimas que derramamos,
ao certo,
nos recompensa por fazer lembrar
daquele ser que, tendo partido
para o além,
ensina-nos que a morte,
embora triste,
que nos deixa em prantos,
mostra a única estrada,
em aberto,
que nos igualiza a tudo
o que neste planeta, respira...
e acaba.
E enquanto caminhamos por entre
túmulos silenciosos que
guardam um grande segredo
de seus donos que dormem,
na Região do silêncio,
meditamos na ganância
existente no mundo e, porém,
esquecemos que um dia,
em alguma época, no futuro,
será chegado o momento de
deixarmos todo um passado
de festas, presentes, trabalho
e talentos,
para juntar-nos àqueles que
repousam o sono eterno e
solitário.
E pensando nesse fim que o tempo
nos reserva,
ao passo que, velas acendemos
no cemitério,
por ocasião do Dia de Finados,
notamos que somente neste local,
verdadeiramente, existe a igualdade,
onde pobres e ricos unem-se,
em fraternidade.
Nessa hora, de nada adianta
o ouro e a prata,
os dotes e as posses,
a faculdade e a fama,
pois ali, nessa terra lúgubre,
todas as conquistas passadas,
transformadas em pó,
juntar-se-ão as pessoas que morreram,
sem nunca terem obtido algo,
na vida.
E entre o mal soante som,
produzido pelo vento a uivar
sobre as coroas de flores
trazendo até aos nossos ouvidos
um hino sepulcral,
os que dormem sozinhos,
são todos pobres
e por isso, seus espíritos
clamam e carecem da Glória
do Senhor Jesus Cristo
para um dia, Ressuscitar.
Com isso,
a escola da vida,
dá-nos um ensinamento:
Sendo bom ou mau aluno,
todos teremos nossa formatura
para obtermos o diploma final.
E finalmente, aprendermos assim que, a morte
é na verdade,
uma grande lição.
Já o pastor e palestrante bahamiano, Dr. Myles Munroe (1954-2014), que foi presidente da maior Congregação Cristã das Bahamas, afirmava que o lugar mais rico do mundo é o cemitério, “...porque lá estão enterrados sonhos que não se realizaram, livros que não foram escritos, filmes que não foram produzidos, canções que não foram compostas, quadros que não foram pintados, poesias que nunca foram escritas...” E acrescentava também: “Eu acredito que a maior tragédia na vida, não é a morte. Mas a grande tragédia na vida, é uma vida sem propósitos.”
Querido irmão Orgel: Não foi nada fácil para nós, perdê-lo, mesmo que temporariamente. Mas a falta que sentimos de você, nos faz lembrar frases de uma canção antiga: “Ter Saudade Até Que é Bom, é Melhor Que Caminhar Vazio...” (“Sonhos”) Peninha.
E se você escolheu ir, “...Junto a Ti (Jesus) Buscar Outro Mar...” conforme a belíssima letra (“Tu Te Abeiraste Da Praia”), hino Católico, esperamos que o Senhor lhe tenha recebido na Sua Glória.
E que assim seja!
"...Como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade"
(Salmos 110.3).
"Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar" (Salmos 103. 15, 16).
ORGEL FISCHER DE ALMEIDA
15 DE MAIO DE 1953 08 DE AGOSTO DE 1971
DESCANSE EM PAZ!
THE END
SUICÍDIO: “O homem não tem jamais o direito de dispor da própria vida, porque só a Deus cabe tirá-lo do cativeiro terrestre, quando o julga oportuno. Todavia, a justiça divina pode abrandar os seus rigores em favor das circunstância, mas reserva toda a sua severidade para aquele que quis se subtrair às provas da vida. O suicida é como o prisioneiro que se evade da prisão, antes de expirar a sua pena, e que, quando é recapturado, é mantido mais severamente. Assim ocorre com o suicida, que crê escapar às misérias presentes, e mergulha em infelicidades maiores.”
EDITORA IDE - São Paulo - SP
"Em cumprimento do Mandamento Celestial: "Parábola dos Talentos"
(Mateus 25. 14-30). CUMPRA-SE A PROFECIA.
Um acontecimento real, esquecido pelo tempo e que agora o passado que não pode ser enterrado para sempre...traz de volta.